Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Celebramos, neste domingo, o 15º desse Tempo Comum, um tempo propício de escuta da Palavra de Deus e para colocarmos o Reino de Deus em prática. Que as nossas atitudes cotidianas sejam de acordo com aquilo que condiz ao reino de Deus. Uma das coisas que o Reino de Deus nos pede é servir e cuidar dos necessitados. Sejamos bons samaritanos com o nosso próximo e tenhamos pelo próximo a mesma compaixão que Jesus tinha.
Que esta missa de hoje nos ajude a nutrir em nós o compromisso de sermos bons samaritanos com o nosso próximo, sobretudo, com aqueles que mais sofrem. Em tempos de pandemia da covid-19 que ainda vivemos, muitas famílias perderam seus entes queridos, ou têm alguém doente, desempregado ou ainda que, infelizmente, sofre com falta de alimento. Muitas são as pessoas que estão tendo dificuldades para a aquisição do básico para a alimentação e enfrentam, também, o altos preços que prejudica os mais humildades e os mais pobres. Nesse momento, podemos ser solidários e bons samaritanos com o próximo, ajudando naquilo que precisam.
Ao participarmos da Missa todos os domingos, a Palavra de Deus nos ensina partilhar o pão com aqueles que mais sofrem e sermos solidários com o próximo. Da mesma forma, se partilhamos o pão espiritual na Igreja, temos que partilhar o pão material com aqueles que mais precisam. Como família cristã de batizados que somos, e pertencentes a Jesus, sejamos abertos a dor do próximo. O Espírito Santo sempre faz novas todas as coisas, por meio desse espírito recebido no batismo, sejamos sacerdotes profetas e reis.
A primeira leitura deste domingo é do livro do Deuteronômio (Dt 30, 10-14). O livro do Deuteronômio é o livro da lei. Moisés incita ao povo a seguir aos mandamentos e preceitos de Deus. O povo de Israel é conhecido por ser um povo de “cabeça dura”, ou seja, por vezes seguiam os seus próprios caminhos e não aquilo que Deus lhes prescrevia. Esse povo, algumas vezes, se revoltava contra Deus, mesmo Ele tendo o libertado da escravidão que sofria no Egito. Moisés pede ao povo que se converta a Deus de todo o coração e com toda a alma. Esse mandamento está próximo e claro para ser cumprido, basta que ele entre e penetre o coração. Cumprindo esse mandamento, não será difícil cumprir os demais, sobretudo, o mandamento que advém desse, que é amar e servir o próximo.
O salmo responsorial é o 68 (69). O salmista nos convida a ver as maravilhas realizadas por Deus. Se somos salvos dos perigos é por graça de Deus, se somos perdoados dos pecados, é por graça de Deus e se estamos vivos, é também por graça divina. Aquele que vive na humildade e que ama e serve ao próximo consegue ver as maravilhas de Deus.
A segunda leitura é da carta de São Paulo aos Colossenses (Cl 1, 15-20). Paulo diz à comunidade que Cristo é a imagem do Deus invisível, por causa dele é que tudo foi criado. Como está descrito no prólogo de São João: “O verbo se fez carne e habitou entre nós”. Ele existe antes do tempo, é a cabeça do corpo, isto é, da igreja. Nós somos os membros que fazemos dessa igreja que tem Cristo como cabeça. Por meio D’Ele, os nossos pecados são perdoados e abre-se para nós as portas da eternidade.
O Evangelho desse domingo é de Lucas (Lc 10, 25 -37). Um mestre da Lei se aproxima de Jesus e querendo pô-lo em dificuldade pergunta: “Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?” (Lc 10,25). Jesus pergunta a ele o que está escrito na Lei e como ele a lê. Ele responde corretamente, dizendo o que está escrito no livro da lei, amar a Deus de todo o coração e com todo o entendimento e o próximo como a si mesmo. Jesus lhe diz que ele respondeu corretamente, mas querendo justificar-se questiona: “E quem é meu próximo?” (Lc 10,29).
Após essa indagação, Jesus conta a parábola do bom samaritano. Os samaritanos eram um povo malvisto pelos judeus, eles diziam que eles eram uma raça impura e que a salvação divina só viria ao povo judeu. Na parábola do bom samaritano, Jesus conta que um homem havia caído de seu cavalo após ser assaltado, e estava caído ferido, quase morto, a beira do caminho. Um sacerdote e um levita que passavam pelo caminho viram o homem no chão e seguiram adiante. Um samaritano que estava viajando e passou por ali, acudiu o homem e sentiu compaixão. Cuidou de suas feriadas, fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois, colocou o homem em seu próprio animal e levou-o a uma pensão, onde cuidou dele.
No dia seguinte, pegou duas moedas de prata, entregou ao dono da pensão, recomendando: “Toma conta dele! Quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais!” (Lc 10,35). Jesus pergunta ao mestre da Lei: “Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com Ele.” E Jesus disse: “Vai e faze a mesma coisa”.
Essa frase que Jesus disse ao mestre da lei, ao final do Evangelho, Ele diz a cada um de nós, hoje. Sejamos misericordiosos com o nosso próximo e tenhamos compaixão. Não fechemos os olhos aos que mais precisam e partilhemos o que temos com quem mais necessita. Visitemos, também, os doentes e as famílias enlutadas, sendo a presença samaritana de Jesus para essas pessoas. Lembremos, sempre, somos todos irmãos por meio do batismo, e pertencemos à família de Deus.