Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo de Montes Claros/MG
A Solenidade de Cristo Rei do Universo, celebrada no último domingo do ano litúrgico ou no último domingo antes do Advento é, também, oportunidade de celebrar o Dia Nacional dos Cristãos Leigos e Leigas. Para este ano de 2021, o Conselho Nacional do Laicato escolheu como tema “Testemunhas de Jesus Libertador no compromisso com a vida”. No contexto da pandemia e dos desafios daí advindos, é inegável o quanto os leigos e leigas têm testemunhado no compromisso com a vida. Inspiram-se em Jesus e desdobram a fé no Mestre de Nazaré, inserindo-se até mesmo nos mais inóspitos ambientes para ali ser sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5, 13-16).
Grande maioria do Povo de Deus, os leigos e leigas atuam nas incontáveis comunidades eclesiais missionárias espalhadas pelo Brasil afora. Testemunham o seguimento de Jesus no âmbito da família ao viverem a união conjugal como testemunho de fidelidade e sinal do amor de Deus pela humanidade. Ainda em família, pais e mães educam seus filhos iluminados pelo evangelho e os acompanham na iniciação à vida cristã. No âmbito do trabalho expressam com criatividade a sua participação na obra cocriadora, tarefa de todo homem e mulher. Na política buscam trabalhar pelo bem comum inspirados no ensinamento social da Igreja. Nas comunidades eclesiais missionárias assumem diferentes ministérios e serviços, imbuídos da alegria de servir a Cristo e ao seu povo.
Cada vez mais a Igreja cresce na compreensão da vocação e missão dos leigos e leigas. Já é predominante a eclesiologia do Concílio Vaticano II, que compreendeu a Igreja como Povo de Deus. Nela, o que nos une, e é comum a todos, é a graça batismal. Somos todos irmãos e o batismo é a fonte de todas as vocações. Pode parecer lento, mas um processo bonito de assunção de um novo lugar do laicato vai tomando espaço na Igreja. Em diferentes espaços eclesiais os leigos e leigas demonstram o quanto têm e podem colaborar para que o Reino de Deus cresça entre nós.
Alguns destaques a fazer. O primeiro deles trata-se do campo da teologia, como estudo e ensino. Cresce sempre mais o número deles no estudo da teologia e, no Brasil, são centenas que já galgaram os graus do mestrado e doutorado, com excelentes produções e comprovada competência. O número de mulheres teólogas é uma luz para a Igreja, que ganha com a presença feminina na tarefa de pensar a fé. As mulheres trazem um perfume novo para os ambientes eclesiásticos, tornando-os mais eclesiais e mais humanos. Destaque-se a beleza dos muitos ministérios assumidos pelos leigos e leigas nas Igrejas locais. Representam quase cem por cento dos milhares de catequistas do país. Pensemos que a educação da fé na esfera das comunidades está confiada diretamente a eles. E, a maioria, não sem surpresa, é de mulheres, jovens e adultas. Em muitas dioceses, eles e elas têm oferecido uma contribuição substancial na formação presbiteral e diaconal.
Como bispo, fico muito feliz ao reconhecer a presença dos leigos e leigas em nossas comunidades. O zelo com que muitos assumem sua missão eclesial, somado a outros compromissos pessoais de família e de trabalho, é um testemunho que estimula e interpela. É estímulo para outros seguirem esse caminho. E interpela a todos os que, na Igreja, ainda não descobriram a alegria de testemunhar a fé em Jesus libertador por meio do serviço ao Evangelho da Vida.