Já se passaram cinquenta (50) anos, em que a Igreja no Brasil celebra o mês da Bíblia para que a Palavra de Deus se torne uma presença constante na vida dos cristãos. A Sagrada Escritura é uma fonte inesgotável e segura da Palavra de Deus. A Igreja enfatiza com maior destaque, mediante a apresentação de um tema específico, a proposta de reflexão para todos os fiéis no mês da Bíblia.
Para o ano 2021, o livro proposto é a Carta de São Paulo aos Gálatas, que tem como lema; “Pois todos vós sois um só, em Cristo Jesus” (Gl 3,28), e convida a viver a unidade em comunidade. Podemos entender esta carta “como evangelho de Jesus crucificado”, ou tomar como ponto de partida o “hino Batismal”, para entender esse escrito de Paulo, captar seu ardor bíblico na unidade em Cristo, que conduz à comunhão fraterna.
Pela sua Palavra, Deus infunde a esperança na vida do povo, suscita coragem e ânimo nos ouvintes, e leva ao exercício fecundo da liberdade cristã. Essa Palavra deve ser ouvida, acolhida, guardada no coração e transmitida com fidelidade, gerando nas pessoas o compromisso de assumir as propostas do Reino de Deus. Palavra que abre para o caminho da vida e gera dignidade, porque nela se revela a ação de Deus na vida daqueles que a acolhem.
Com a força da Palavra de Deus, o cristão se sustenta e resiste às insídias do mundo secularizado e desumanizado. Ela ajuda a detectar os instrumentos que desvirtuam os fundamentos da fé. Ao mesmo tempo aponta caminho seguro e desperta confiança na restauração das forças para um modo seguro do agir cristão. Muitas deficiências da vida das pessoas podem ser superadas e sanadas com a ajuda da reflexão bíblica sobre a Palavra de Deus.
A Bíblia é um conjunto de escritos que nasceram das experiências comunitárias e da tradição oral, baseada nas práticas religiosas de um povo e da ação salvífica de Deus. Essas práticas comunitárias trazem marcas históricas milenares e são reconhecidas como inspiração divina e traz a contribuição dos seus escritores sagrados com suas limitações humanas.
Portanto, a Palavra de Deus sempre articula fé e vida, porque une a ação de Deus e a experiência de vida das pessoas. Esta interação entre Deus e o homem estabelece um vínculo que exige o exercício da justiça e a prática do amor para conferir dignidade às pessoas e estabelecer vínculos fraternos.
Uma das características do escrito paulino, que nos é proposto para a reflexão deste mês, nos apresenta a liberdade cristã e os conflitos nas comunidades. Este estudo, à luz das dificuldades da comunidade, enfatiza a missão do apóstolo Paulo na condução e orientação da comunidade para que esta não perca de vista o verdadeiro Evangelho e não se deixe envolver pelas armadilhas do “outro Evangelho”, aquele ainda preso à Lei. Essa perspectiva de Paulo pode servir de guia e luz para todas as lideranças das nossas comunidades eclesiais missionárias.
Aprendamos com Paulo discernir e distinguir a verdadeira Palavra de Deus e a radicalidade do Evangelho que ele pregou. Ele nos ensina como distinguir a relação do Evangelho de Cristo com qualquer variante que compactua com grupos de poder (“Cristo e a Lei”, “Cristo e a circuncisão”, “Cristo e a raça”, “Cristo e o Imperador”). Significa que não podemos fazer da religião um instrumento de poder e jamais nos afastar do verdadeiro Evangelho de Cristo.
A Palavra de Deus ainda nos convida à solidariedade e ao compromisso do cuidado com todo ser humano, sobretudo os mais fracos e indefesos. A partir da Palavra, cada pessoa é vista como imagem e semelhança de Deus, e por isso mesmo deve ser atendida em todas as suas necessidades. Foi assim que Jesus ensinou e agiu em relação aos doentes, aos surdos, mudos, coxos, devolvendo a dignidade que haviam perdido.
Neste mês da Bíblia, deixemo-nos transformar pela Palavra de Deus, que cada dia ela penetre em nossos corações, para que nos tornemos verdadeiros ouvintes e servidores da Palavra de Deus.
DOM FREI CLAUDIO NORI STURM
Bispo da Diocese de Patos de Minas