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O ASPECTO SEDUTOR DAS REDES SOCIAIS NA VIDA DAS PESSOAS CONSAGRADAS OU NÃO

03/08/2022   .    Artigos de Formação
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Dom Edson Oriolo
Bispo da Diocese de Leopoldina/MG

No Brasil, não temos nenhuma pesquisa que aborde utilização das redes sociais por parte das pessoas consagradas ou não. Há a percepção de que a maioria deles utilizam as redes sociais para estudos, pesquisas, aprofundar conhecimentos, preparar homilias, para oração e meditação, dar e receber conselhos, divulgar mensagens de fé, transmitir missas, comunicações paroquiais, etc. Os consagrados ou não têm ciência de que as redes sociais geram conteúdos certos para pessoas certas e que as produções desses conteúdos encantam, com enorme assertividade, as necessidades e anseios delas.

Os conteúdos postados são diversificados. As postagens são de entretenimento, diversão, conhecimentos científicos, teológicos, filosóficos, virtuais com fontes fidedignas, mas também tem temas e conteúdos polêmicos, coberturas de protestos, manifestações, informações, bad News, fake News, deepfake quer queiram ou não influenciam na moda, na religiosidade das pessoas, nas opiniões, na política, no comportamento além de ditar valores, mentalidade e mudar uma geração.

Assim sendo, as redes sociais (velocidade assustadora e reinventando o mundo cada minuto) apresentam-se como um fenômeno que seduz dezenas, centenas e milhões de pessoas e, entre tantos, das pessoas consagradas. Invadiram o ministério dos consagrados e consagradas e, por meio do encantamento, trazem desafios quanto aos conceitos teológicos sobre o mistério da salvação; quanto à vida eclesial (liturgia, catequese, pastoral, atuação missionária) e à vida cristã (valores e opções morais). Além disso, por estarmos vivendo numa sociedade de rápida expansão das tecnologias digitais e direcionada pelo capitalismo de vigilância, cujo resultado é a modificação não só os relacionamentos dos tementes a Deus como das pessoas em geral.

A entrada das pessoas consagradas nesse mundo online vem acontecendo não apenas de forma espontânea, mas também por pressão pelo modo como configura a convivência nessa sociedade tecnológica. Tal envolvimento se dá por curiosidade e lazer, por necessidade de trabalho e negócios etc. A multiplicidade de redes (Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp, WhatsApp business (voltado para negócios), Youtube, Pinterest, TikTok, Snapchat, Telegram, Linkedin e outros querem sempre garantir um minutinho a mais na vida dos usuários. Assim, vamos nos engajando a conteúdos e mais conteúdo que despertam nas pessoas senso de identificação e de interesse, envolvendo nossos expedientes racionais.

Com efeito, passamos muito tempo nas redes sociais, haja vista que os posts que estão nelas são fruto de um estudo feito pelas próprias redes que nos encantam e seduzem. Os nossos acessos começam por simples contatos; e, aos poucos, vão nos levando a outros acessos, totalizando um tempo considerável. Assim, vamos dedicando tempo e mais tempo às redes sociais. Seduzidas pelo encanto das inovações atraentes, as pessoas se encantam e são afetadas pelas redes sociais.

Cada interação das pessoas nas redes sociais, suas buscas, seus cliques em um link, suas curtidas e compartilhamentos, vão sendo registrados, revelando as nossas preferências, gostos, projetos, pensamentos, anseios. E os algoritmos, que são capazes de interpretar as nossas inclinações, permitem acesso ao nosso espaço pessoal o que leva à exploração dos nossos expedientes racionais pela oferta insistente de conteúdos que nos atraem por seu encantamento, gerando um círculo vicioso atração cada vez mais envolvente.

As redes sociais trabalham com base em algoritmos de relevância. Tem técnicas de análise de dados para gerar conteúdo certo para pessoas e públicos certos. Os conteúdos que vão nos atraindo são produzidos com base em dados que possam ser muito mais assertivos nas necessidades das pessoas. Os algoritmos acabam garantindo conteúdos, ideias, valores e comportamentos defendidos.

No entanto, essa alteração na rotina das pessoas consagradas ou não passa a ser um grande desafio para vivenciar a fé, não só por estarmos passando muito tempo nas redes sociais. A premência em assumir como imperativo esse novo tempo de redes sociais, leva-nos à urgência de postar e consumir conteúdos de cunho religioso. Parece-nos simples o evangelizar, o administrar a vida paroquial, o catequisar, celebrar, rezar (orar), contemplar, meditar através das redes sociais. Julga-se que o simples acompanhar um ritual pela TV ou on-line é o suficiente, mas isso pode estar no nível do antigo “assistir missa”. É inegável que há um valor, sobretudo em situações restritivas como a atual ou para as pessoas impedidas de participar de nossas assembleias. Mas, em termos de teologia pastoral, é preciso priorizar uma catequese efetiva e mistagógica, proativa e resiliente.

Francisco convida a Igreja a recuperar o frescor original do Evangelho, do qual “despontam novas entradas, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para o mundo atual” (EG 11).

Diante dos argumentos expostos, é possível perceber que a simples sedução que os atuais meios de comunicação exercem sobre as pessoas consagradas ou não é um desafio antropológico. Esse fato, a priori, não se configura como algo positivo ou negativo. Mas, é preciso compreender que tal fato vai ganhando configurações que transforma as feições do seu usuário. Percebe-se nisso a necessidade de redescobrir os reais valores humanos presentes nas atuais técnicas de comunicação social.

É, então necessários resgatar a identidade de “meio” que configuram os instrumentos sociais, eles não são fins em si, mas apenas instrumentos. Esse fato revela quem o utiliza, em grande medida seus aspectos psicológicos são externados e interpretados. Com efeito, é preciso compreender que é a liberdade humana que ganha seus contornos e, sobretudo, manifesta suas consequências.

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