Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Celebramos no dia 8 de dezembro uma das festas mais bonitas e populares da Virgem Maria: a Imaculada Conceição. Maria não só não cometeu pecado algum, mas foi preservada até da herança comum do gênero humano que é o pecado original. E isto devido à missão para a qual Deus a destinou desde o início: ser a Mãe do Redentor. Tudo isto está contido na verdade da fé da Imaculada Conceição. O fundamento bíblico deste dogma encontra-se nas palavras que o Anjo dirigiu à jovem de Nazaré: “Alegra-te, cheia de Graça, o Senhor está contigo!” (Lc1, 28).
Caminhando para o Natal, somos convidados a olhar para Maria, a IMACULADA, e reconhecer nela o modelo de como acolher Jesus, que está chegando. No caminho do Advento brilha a estrela de Maria, “sinal certo de esperança e de conforto” (Lumen Gentium, 68). Para chegar a Jesus, luz verdadeira, sol que dissipou todas as trevas da história, precisamos de luzes próximas de nós, pessoas humanas que reflitam a luz de Cristo e iluminam assim o caminho a percorrer. E qual pessoa é mais luminosa do que Maria? Quem pode ser para nós estrela de esperança, melhor do que ela, aurora que anunciou o dia da salvação?” (Encíclica Spe Salvi, 49).
Por isso, a liturgia nos faz celebrar, na proximidade do Natal, a festa solene da Imaculada Conceição de Maria: o Mistério da Graça de Deus que envolveu desde o primeiro momento da sua existência a criatura destinada a tornar-se a Mãe do Redentor, preservando-a do contágio do pecado original. Olhando para ela, nós reconhecemos a altura e a beleza do projeto de Deus para cada homem: tornar-se santos e imaculados no amor (Ef 1, 4), à imagem do nosso Criador.
Que dom grandioso ter como Mãe, Maria Imaculada! Uma Mãe resplandecente de beleza, transparente ao amor de Deus: a Mulher predestinada para ser a Mãe do Redentor, Mãe d’Aquele que se humilhou até ao extremo para nos reconduzir à nossa originária dignidade. Esta Mulher, aos olhos de Deus, desde sempre tem um rosto e um nome: “cheia de Graça” (Lc 1, 28), como foi chamada pelo Anjo que a visitou em Nazaré.
É a nova Eva, esposa do novo Adão, destinada a ser mãe de todos os remidos. Assim escrevia Santo André de Creta: “A Theotókos Maria, o refúgio comum de todos os cristãos, foi a primeira a ser libertada da primitiva queda dos nossos progenitores” (Homilia IV sobre a Natividade, 97, 880). E a liturgia de hoje afirma que Deus “preparou uma digna morada para o seu Filho e, em previsão de sua Morte, preservou-a de toda a mancha de pecado” (Oração da Coleta).
Dizer que Maria é Imaculada, significa que ela, desde o primeiro instante de sua existência — no momento de sua concepção —, foi isenta do pecado original. Ensina o Concílio Ecumênico Vaticano II: “A Mãe de Jesus, dando à luz do mundo a própria Vida que tudo renova… foi adornada por Deus com dons dignos de uma tão grande missão… enriquecida desde o primeiro instante da sua conceição, com os esplendores de uma santidade singular” (LG 56). A saudação do Arcanjo Gabriel: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1,28), constitui o mais válido testemunho da conceição imaculada de Maria, pois não seria “cheia de graça”, em sentido pleno, se o pecado a tivesse manchado, ainda que fosse por um instante apenas.
A Igreja reza e ensina: “Ó Deus, que preparastes uma digna habitação para o vosso Filho, pela Imaculada Conceição da Virgem Maria, preservando-a de todo o pecado em previsão dos méritos de Cristo…”. Deus preparou aquela que seria a Mãe do seu Filho com todo o seu amor infinito.
Disse São João Paulo II: “Na Virgem puríssima, resplandecente, fixamos os nossos olhos, como a Estrela que nos guia pelo céu escuro das expectativas e incertezas humanas, especialmente neste dia em que, sobre o fundo da liturgia do Advento, brilha esta solenidade anual da tua Imaculada Conceição e te contemplamos na eterna economia divina como porta aberta através da qual deve vir o Redentor do mundo” (Alocução, 8 -12-1982).
A festa da Imaculada nos toca profundamente se a compreendemos à luz das palavras de São Paulo: “Deus nos escolheu, em Cristo, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor” (Ef 1,4).
Entre os antigos cantores da beleza espiritual da Mãe de Deus, sobressai São Bernardo, afirmando que a invocação: “Ave Maria, cheia de Graça” é “agradável a Deus, aos anjos e aos homens. Aos homens, graças à maternidade; aos anjos, graças à virgindade; e a Deus, graças à humildade” (Sermo XLVII, De Annuntiatione Dominica, Roma 1970, 266). O diálogo entre o anjo Gabriel e a Virgem (Ave, Cheia de Graça: o Senhor está contigo), revela a identidade mais profunda de Maria, o “nome”, por assim dizer, com que o próprio Deus a conhece: “cheia de Graça”.
Esta expressão, que nos é tão familiar, desde a infância, porque a pronunciamos todas as vezes que recitamos a “Ave-Maria”, oferece-nos a explicação do mistério que hoje celebramos. De fato, Maria, desde o momento em que foi concebida pelos seus pais, foi objeto de uma singular predileção da parte de Deus que, em seu desígnio eterno, a escolheu para ser a Mãe do seu Filho feito homem e, por conseguinte, a preservou do pecado original. Por isso, o anjo dirige-se a ela com este nome, que literalmente significa: “desde o início cheia do amor de Deus” e da sua graça.
O mistério da Imaculada Conceição é fonte de luz interior, de esperança e de conforto. No meio das provações da vida e sobretudo das contradições que o homem experimenta dentro de si e à sua volta, Maria, Mãe de Cristo, diz-nos que a Graça é maior que o pecado, que a misericórdia de Deus é mais poderosa que o mal e sabe transformá-lo em bem. Todos somos chamados a ser santos e irrepreensíveis; é o nosso mais verdadeiro destino; é o projeto de Deus para nós!
A festa da Imaculada, que celebramos neste venturoso 8 de dezembro, ilumina como um farol o Tempo do Advento, que é tempo de vigilante e confiante expectativa do Salvador. Enquanto nos encaminhamos ao encontro do Deus que vem, olhamos para Maria que “brilha como sinal de esperança segura e de consolação aos olhos do Povo de Deus peregrino” (Lumen Gentium, 68).
Em Maria Imaculada nós contemplamos o reflexo da beleza que salva o mundo: a beleza de Deus que resplandece sobre a face de Cristo. Em Maria, essa beleza é totalmente pura, humilde, livre de qualquer soberba e presunção.
Imaculada Conceição, rogai por nós!