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ANÁLISE DE JESUS COMO UMA FIGURA HISTÓRICA

28/05/2021   .    Artigos de Formação
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João Carlos Pereira Horácio

Jesus de Nazaré foi um ser humano, parte da história, não do mito ou da lenda. Jesus foi um judeu palestinense e não se distinguia essencialmente de seus contemporâneos devido a sua aparência, pelas suas vestes, nem pelas suas atitudes. Acredita-se que a sua língua materna foi o aramaico e que também sabia ler e entender a Bíblia hebraica[1].

A origem judaica de Jesus adquire importância não tanto por razões étnicas quanto teológicas. No centro de suas convicções encontra-se Iahweh, o Deus de Israel, o Deus que o livrou da escravidão no Egito, o Deus da aliança e das promessas messiânicas[2].

Jesus até os trinta anos de idade, viveu no pequeno povoado de Nazaré, na região da Galileia. Os principais biógrafos de Jesus são os evangelistas, porém eles não escrevem uma biografia histórico – psicológica. Eles estão interessados em descrever a sequência histórica dos fatos, que Jesus é o filho de Maria[3], e segundo Gl 4,4 porque “nasceu de uma mulher, é identificado como verdadeiro ser humano[4].

José, esposo de Maria adota Jesus[5], como nos lembra o evangelista São Mateus: “Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus chamado Cristo” (Mt 1,16). Sendo assim, Jesus se insere na linha da promessa do Messias régio esperado, da descendência de Davi: “Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai[6]” (Lc 1,32).

Assim, em sua primeira aparição pública, pôde –se tomá-lo por filho do carpinteiro José[7]. De fato, na árvore genealógica de Jesus, segundo São Mateus, é identificado, num sentido teológico, como “filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1,1). São Lucas remonta a origem de Jesus diretamente a Adão, o primeiro ser humano criado por Deus, e o testemunha, portanto, como o “homem novo” que procede diretamente de Deus[8].

Sobre o seu nascimento, os estudiosos determinam que ocorreu na Palestina entre o sétimo ano e quarto ano antes da era cristã, assim chamada em referência ao próprio Cristo[9]. Naquela ocasião, o rei judeu era Herodes o Grande (37 – a.C. aproximadamente) e o imperador romano era, Otávio Augusto (27 a.C. – 14 d.C. aproximadamente). Segundo os relatos dos evangelistas São Mateus e São Lucas[10], Jesus nasceu em Belém de Judá (Cf. Mt 2,1), porque várias disposições para o registro estatístico da população do Império Romano fizeram com que seus pais se deslocassem, na época de seu nascimento, para Belém, a antiga cidade real de Davi[11].

Até o início do seu ministério, Jesus viveu em seu povoado natal: “Saindo dali, foi para a sua pátria e os seus discípulos o seguiram” (Mc 6,1), quando ele começa a sua atuação na vida pública os estudiosos colocam que ele teria aproximadamente trinta anos de idade[12].

O conteúdo da sua mensagem e da sua ação foi estabelecimento do Reino de Deus (basileia tou theou)[13]. Proclamou a proximidade iminente do Reino de Deus[14]. Convidou a responder a seu chamado por meio da conversão e da fé no Evangelho de Deus. O seu período de atividade pública concentrou-se em três regiões: Galileia, Judeia e Jerusalém, tendo a última como cumprimento do seu destino, já que Jerusalém é o centro religioso de Israel.

Os estudiosos acreditam que provavelmente no dia 07 de abril do ano 30, certamente porém numa sexta-feira, Jesus morreu condenado pelo governador romano Pôncio Pilatos (26 -36 d.C.), durante o reinado do imperador romano Tibério (14 – 36 d.C.) e no período em que o cargo de sumo sacerdote era ocupado por Caifás (18 – 36 d.C.)[15].

Jesus de Nazaré foi executado porque as autoridades judaicas o consideravam um blasfemo e um falso messias e as romanas, um sedicioso político. É atribuído de certeza histórica o título de sua acusação inscrito na cruz “O rei dos judeus”[16].

Visto que os sumos sacerdotes e escribas caçoaram de Jesus como o “Messias e o rei de Israel” (Cf. Mc15,32), está claro que Jesus de Nazaré foi executado como um falso pretendente a messias porque identificava o Reino de Deus com a sua pessoa, mas, a única possibilidade de se fazer referência à figura histórica de Jesus e à sua pretensão de ser o mediador salvífico definitivo da basileia de Deus é através dos testemunhos do acontecimento pascal[17].

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[1] “O que quer que Jesus possa ter sido, ele foi um judeu da Galiléia, e o movimento de Jesus foi, pelo menos no começo, galileu-palestino ou, em todo o caso, judeu – palestino. Há dois acessos a Jesus: a história do cristianismo primitivo, enquanto ela pode ser compreendida como história da influência de Jesus, e a história da Palestina, enquanto local da atuação de Jesus. Os acessos se complementam, em parte se sobrepõem. Jesus e os inícios do cristianismo primitivo pertencem à história do judaísmo palestino” (Theissen; Merz, 2004, p.33).

[2] “Conforme prometera a nossos pais em favor de Abrão e de sua descendência, para sempre” (Lc 1,55).

[3] “Não é este o carpinteiro, o filho de Maria” (Mc 6,3).

[4] “Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de mulher”. (Gl 4,4).

[5] Cf. Mt 1, 18 – 25.

[6] “Já no tempo de Jesus, procuraram as pessoas interpretar a sua figura misteriosa por meio da aplicação de categorias que lhes eram conhecidas e que deveriam assim decifrar o seu mistério: Ele era visto como profeta, como Elias ou Jeremias ressuscitados, como João Batista (Mc8,28). Na sua confissão, S. Pedro utiliza, como vimos, outros títulos mais elevados: Messias, Filho do Deus vivo. O esforço de resumir em títulos o mistério de Jesus, que explicassem o seu ser, continuou depois da Páscoa. Cristalizaram-se então mais três títulos fundamentais: Cristo, (Messias), Kyrios (Senhor), Filho de Deus” (Ratzinger, 2020, p. 271).

[7] “Felipe encontra Natanael e lhe diz: ‘Encontramos aquele de quem escreveram Moisés, na Lei, e os profetas: Jesus, o filho de José, de Nazaré’ (Jo 1,45).

[8] Cf. Lc 3,38.

[9] Cf. Ratzinger, Jesus de Nazaré: a infância, p.56.

[10] “Mateus e Lucas – cada um à sua maneira – queriam não tanto narrar “historias”, mas escrever história: uma história real, acontecida, embora certamente interpretada e compreendida com base na Palavra de Deus. Isso significa também que não havia a intenção de narrar de modo completo, mas de escrever aquilo que, à luz da Palavra e para a comunidade nascente da fé, se revelava importante” (Ratzinger, 2020, p.23).

[11] Cf. Mq 5, 1-3

[12] “Segundo Lc 3,23 Jesus tinha cerca de 30 anos quando começou sua atividade pública. Essa afirmação é vaga em dois aspectos: contém a partícula indeterminada aproximadamente e alude ὼσεί /aproximadamente e alude provavelmente a figuras bíblicas como David (2Sm 5,3), José (Gn 41,46) e Ezequiel (Ez1,1), que começaram sua carreira pública na idade ideal de trinta anos. Devemos então incluir no cálculo considerável espaço de tempo tanto para mais quanto para menos” (Theissen; Merz, 2004, p. 176).

[13] “O termo ‘Reino de Deus’, ou ‘Reino dos Céus’, aparece no Novo Testamento como o verdadeiro leitmotiv da pregação de Jesus. Os dados estatísticos não deixam dúvidas: das 122 vezes em que o termo emerge no Novo Testamento, 99 se encontram nos três evangelhos sinóticos, e em 90 dessas ocorrências as palavras são pronunciadas pelo próprio Jesus. Isso mostra que o termo teve uma importância fundamental na tradição iniciada por Jesus, mas perdeu rapidamente seu lugar na pregação pós – pascal, caindo cada vez mais em segundo plano. De fato, pode-se dizer que, enquanto o eixo centra da pregação pré – pascal é a mensagem do Reino de Deus, na pregação apostólica pós – pascal esse lugar é ocupado pela Cristologia” (Ratzinger, 2020, p.48).

[14] “Reino não significa uma esfera de governo, mas uma realidade ativa, tal como as palavras ‘domínio’ ou ‘comando’. Assim, o termo ‘Reino de Deus’ indica o domínio de Deus, seu poder vivo sobre o mundo; segundo J. Jeremias, a afirmação ‘o Reino de Deus está próximo’ pode ser traduzida como ‘Deus está próximo’. Ao utilizar esse termo, Jesus não se refere a uma realidade celeste, mas algo que Deus está fazendo e fará na terra” (Ratzinger, 2020, p.50).

[15] “Todos os quatro evangelhos concordam em afirmar que Jesus morreu numa sexta-feira. Contudo se pergunta se essa sexta-feira, como Jo a pressupõe, era o dia de preparação da festa da Páscoa (14º dia de nisan), em cuja ‘tarde’ o cordeiro pascal era abatido (Jo18,28; 19,31), antes que o festim pascal começasse com o início da escuridão, ou se a sexta-feira da morte de Jesus caiu no primeiro dia da festa pascal (15º dia de nisan), como os sinóticos relatam” (Theissen; Merz, 2004, p. 177).

[16] Cf. Mc 15,26.

[17] “No acontecimento pascal, Deus revelou a sua identidade relacional com Jesus de Nazaré e, ao mesmo tempo, abriu aos discípulos a possibilidade de participar na comunhão do Pai e do Filho no Espírito Santo” (Müller, 2015, p. 205).

 

REFERÊNCIAS

Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2015

MÜLLER, Gerhard Ludwig. Dogmática Católica: teoria e prática da teologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré: Do batismo no Jordão à transfiguração. São Paulo: Planeta, 2020.

_________________. Jesus de Nazaré: a infância. São Paulo: Planeta, 2020.

_________________. Escatologia: morte e a vida eterna. São Paulo: Molokai, 2020, 2ºed.

THEISSEN, Gerd; MERZ, Annette. O Jesus Histórico: um manual. São Paulo: Loyola, 2004, 2ºed.

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