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Testemunho

16/11/2021   .    Artigos de Formação
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Pe. Artur Nelson de Oliveira
Vigário Paroquial da Paróquia Santa Terezinha de Patrocínio/MG

“Eu estou indo vida eterna” – eram essas as palavras que meu pai frequentemente repetia em cada encontro nosso.

Sr. Dário, homem simples, de pouca leitura, mas de uma sabedoria gigante. Desbravador do imenso Brasil na boleia de seu caminhão. Homem de fé e talvez por isso, merecedor de um grande milagre: o da vida. Acometido por um grave traumatismo craniano esteve em entre a vida e a morte e foi salvo milagrosamente pela misericórdia de Deus, com algumas sequelas. Na época do acidente eu, então seminarista, rogava a Deus: “Senhor, que meu pai me veja padre!”. E assim, ele não apenas me viu sacerdote, mas pude ser o padre para ele. Tantas missas celebradas ao lado de seu leito, unções, comunhões, partilhas… Deus é generoso! Permitiu mais tempo do que pedi.

Eu não o evangelizava. Na verdade, eu era evangelizado por ele. Como padre eu falo do que o Catecismo ensina, sobretudo a urgência de conscientizar as pessoas da efemeridade da vida, da brevitude do tempo da transcendência da alma. Falo do céu.

Aquilo que eu aprendi na teoria meu pai me ensinou na prática. Deus me deu a graça de o preparar para a morte. Conversamos muito sobre ela. Meu pai com uma leveza sempre dizia que estava pronto e que não tinha medo. Em seus devaneios chegava a marcar até o dia e a hora de sua partida. Eu levava com suas palavras, com o senso do bom humor e depois ficava a refletir: de onde lhe vinha tamanha certeza da vida eterna? Talvez porque ele realmente soubesse que iria pro céu. Seu calvário foi grande, sofrido e pesado. Deus não o abandonaria no fim porque o céu é a meta e o sofrimento a estrada e de estrada ele conhecia muito bem!

Ilusão a minha de que eu o preparava para a morte! Na verdade, era ele que me preparava para a ela. Aprendi com meu pai a não apenas a falar sobre a vida eterna, mas experimentar que ela começa aqui. É como os preparativos de uma grande festa, pensada na riqueza de seus detalhes. O sucesso de uma festa está na longa organização que a antecede. Ninguém aproveita uma festa mais do que aquele que a organizou. Aquele sacrifício de agora valerá a alegria do depois. Assim é a Vida Eterna: o gozo de poder experimentar com alegria tudo aquilo que em vida buscou regados com muitas lágrimas e sofrimentos.

Deus foi bom! Permitiu que o filho padre chegasse bem na hora de sua partida. Fui o primeiro a encontrar meu pai no leito já sem vida. A sensação foi de dever cumprido, misturado com a emoção de ver consumada a vontade dele de partir… de ir para a vida eterna. As minhas últimas palavras foram: “Corra, Darinho, corra pra Vida Eterna que tanto buscou” acompanhadas com gesto das mãos ungidas sobre a sua cabeça.

Assim nos despedimos e ele se foi! Indo e deixando tantas lembranças. Recordações que guardarei em meu coração e levarei para sempre comigo. A minha fé foi moldada pela simplicidade de um homem que orgulhosamente chamo de pai!

Vivencio o luto com gratidão porque não dá pra ser diferente. Tenho muitas razões para agradecer. O testemunho do meu pai continuará vivo no meu sacerdócio. Quero ser um padre da esperança, da alegria, levando o consolo de Deus a todos que experimentam a tristeza inevitável da separação.

Em meio a tantas perdas nos apeguemos no único sentimento que é capaz de diminuir a dor da perda: o amor! Pois o amor é a decisão de amar todos os dias aqueles que vivos para Deus continuam vivos dentro de nós. “O que a memória ama fica eterno” (Adélia Prado)

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