Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)
Para o povo da bíblia, o deserto foi uma marca indelével, um caminho de sofrimento, mas também de libertação e de encontro da terra prometida onde corre leite e mel (cf. Ex 3,8). Hoje todos nós experimentamos desertos modernos, também de sofrimento. Pode ser um tempo árido de vida, marcado pela fome, falta de trabalho, de políticas públicas capazes de atender às urgências do povo.
Os sofrimentos causam cansaço, desânimo e até desespero nas pessoas. No deserto, o povo queria voltar para o Egito, de onde tinha saído, mesmo sabendo que lá voltaria e ser escravo, mas pelo menos teria alimento e água. Isto mostra claramente que um dos maiores as famílias sem os alimentos básicos no Brasil.
A pandemia tem causado situação de deserto para muita gente. Não só por causa do luto nas casas, mas também sofrimento psicológico, baixa autoestima e longo período de recuperação para quem passa pelo processo de reabilitação dos efeitos causados pela contaminação. Certamente teremos um longo tempo de sofrimento, de reinventar a normalidade da sociedade afetada pelo coronavírus.
Estamos assistindo um aumento de queimadas em muitos lugares do mundo, enchentes destruidoras de vidas e da natureza, acidentes naturais e por diversas formas de descontroles na gestão pública, avalanche letal da pandemia da covid-19. Entendemos estar vivendo uma situação de deserto. A hora é de recorrer à mão de Deus para socorrer a humanidade antes que tudo chegue ao nada.
Não podemos ser dominados pela postura de agressividade e de destruição, causadoras de deserto. Mas o pior deserto mesmo é o do coração de quem está descomprometido com os ensinamentos de Jesus Cristo. Quem ama a Deus, ama o irmão, a natureza e tem sensibilidade e capacidade para superar todo tipo de ato que leva ao desgaste da vida e sua realização como dom divino.
A dinâmica da vida exige de nós muita sabedoria divina para conduzi-la, porque aparecem muitas surpresas, muitos desertos, que devem ser travessia para a eternidade. É prescindível não cair no desânimo, na falta de esperança e de confiança num mundo melhor. Buscamos força quando apoiamos uns nos outros, mas a sustentação maior está na fé em Deus, que nos orienta por sua Palavra.