Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)
Desde o dia 4 deste mês, o Santo Padre Francisco se encontra hospitalizado por causa de uma cirurgia no intestino. As notícias oficiais manifestam que tal intervenção cirúrgica se deu de forma tranquila e que o Papa se recupera bem. O fato envolvendo o nosso querido Papa Francisco revela o que nunca podemos esquecer: a fragilidade. Somos testemunhas do quanto os últimos anos de São João Paulo II foram marcados pela doença, pela debilidade, pelo sofrimento.
Mas, é na fragilidade que se manifesta a força de Deus agindo em nossa vida. Não só a fragilidade exposta pela realidade do pecado, mas também a fragilidade do nosso ser finito, o que explica a possiblidade de tal experiência. Devemos a São Paulo, o Apóstolo dos gentios, o entendimento de que “quando somos fracos, é então, que somos fortes”; ou ainda, carregamos o grande tesouro em vasos de barro”. A nossa fragilidade pode ser pensada como “locus theologicus”, isto é, como espaço onde reconhecer a ação de Deus e a presença de sua graça.
A força presente em Papa Francisco vem de sua experiência da graça amorosa do bom Deus. Graça que se faz presente em cada batizado. O Santo Padre Francisco, originário da Argentina, tendo por nome de batismo Jorge Mario Bergoglio, começou seu Pontificado, dando sinais de ser um homem de Igreja com características de humildade, de simplicidade e de grande atenção ao povo de Deus. A escolha do nome, Francisco, pela primeira vez na história da Igreja, significa a esperança de que a Igreja viva aquela experiência de contemplação do Cristo, manso e humilde de coração, vivida pelo grande santo da humanidade, da ecologia, da fraternidade universal, da paz. De fato, São Francisco de Assis é um grande modelo de seguimento a Jesus que nos ensinou a buscar o essencial e não se preocupar com aquilo que é acessório: Cristo se fez pobre para nos enriquecer. A Igreja para cumprir a sua missão no mundo deve ser semelhante ao seu Fundador: pobre, despojada, que apresente o seu tesouro vindo da graça de Deus.
O testemunho de fé do Papa Francisco, primeiro latino-americano, primeiro jesuíta, chama a atenção para dois pontos importantes da vida de toda a Igreja: humildade e espírito de serviço. A humildade, inspirada pela escolha do nome, Francisco, o Papa manifestou com o pedido de que o povo rezasse para fosse abençoado. O Papa pediu para ser abençoado antes de abençoar o povo, e continua a pedir que “não esqueçam de rezar” por ele. Com isso ele nos ensina que a Igreja é um povo santo.
O espírito de serviço vem pela tradição de sua família religiosa: ele é um jesuíta, pertence à Companhia de Jesus, fundada por Santo Inácio de Loyola. Segundo a tradição dos jesuítas, “Santo Inácio formou os seus seguidores a servir com um olhar eficaz às necessidades da Igreja universal contemporânea”, recusando nomeações e títulos, servindo à Igreja. O espírito de serviço, tão presente na vida da Igreja na América Latina, Igreja de discípulos missionários, é condição indispensável para a nova evangelização na que estamos envolvidos. Na nova evangelização, nós católicos convenceremos mais se buscarmos servir com humildade e simplicidade, não com desejos de poder nem ganância pelo carreirismo. Papa Francisco nos ensina que, quando confiamos no Espírito Santo, nenhum poder é mais forte do que o poder da entrega, o que nos leva a “um chamado forte e não uma busca de poder”.