Dom Francisco Carlos Bach
Bispo de Joinville (SC)
No próximo dia 26 de julho, festa de São Joaquim e Sant’Ana, pais de Nossa Senhora e avós de Jesus Cristo, cada um de nós, jovem ou adulto, está convidado a prestar-lhes a devida homenagem. O Catecismo da Igreja Católica (n. 2199) nos ensina: “O quarto mandamento dirige-se expressamente aos filhos, nas suas relações com seu pai e sua mãe, porque esta relação é a mais universal. Mas diz respeito igualmente às relações de parentesco com os membros do grupo familiar. Exige que se preste honra, afeição e reconhecimento aos avós e antepassados”.
Em outubro de 1999, São João Paulo II, naquele momento idoso e doente, enviou uma longa “Carta aos Anciãos” de todo o mundo. Escreveu que a Sagrada Escritura conserva uma visão muito positiva do valor da vida. A idade avançada encontra na palavra de Deus uma grande consideração, a tal ponto que a longevidade é vista como sinal de benevolência divina. O Levítico, um dos livros do Antigo testamento, sintetiza quando diz: “Levanta-te perante uma cabeça branca e honra a pessoa do ancião” (Lv 19,32).
São João Paulo II mostrou aos anciãos o rumo a seguir: “A comunidade cristã pode receber muito da serena presença dos que têm muitos anos de idade. Penso, sobretudo, na evangelização: a sua eficácia não depende principalmente de eficiência operativa. Em muitas famílias os netinhos recebem dos avós os primeiros rudimentos da fé! Porém, existem muitos outros campos a que pode estender-se a benéfica contribuição dos anciãos. O Espírito atua como e onde quer, servindo-se frequentemente de meios humanos que aos olhos do mundo não têm muita importância. Quantos encontram compreensão e conforto em pessoas anciãs ou doentes, mas capazes de infundir coragem pelo conselho bondoso, a oração silenciosa, o testemunho do sofrimento acolhido com paciente abandono! Justamente quando as energias vêm a faltar e se reduz a sua capacidade de movimento, estes nossos irmãos e irmãs tornam-se mais preciosos no desígnio misterioso da Providência”.
O Papa emérito Bento XVI nos ensina: “Que os avós voltem a ser presença viva na família, na Igreja e na sociedade. No que diz respeito à família, os avós continuem a ser testemunhas de unidade, de valores básicos sobre a fidelidade a um único amor que gera a fé e a alegria de viver. Os chamados novos modelos de família e o relativismo alastrador enfraqueceram estes valores fundamentais do núcleo familiar. Os males da nossa sociedade… precisam urgentemente de remédios. Face à crise da família não se poderia talvez recomeçar precisamente da presença e do testemunho daqueles (os avós) que têm maior consistência de valores e de projetos? De fato, não se pode projetar o futuro sem se basear num passado rico de experiências significativas e de pontos de referência espirituais e morais. Pensando nos avós, no seu testemunho de amor e de fidelidade à vida, vêm em mente as figuras bíblicas de Abraão e Sara, de Isabel e Zacarias, de Joaquim e Ana, assim como os idosos Simeão e Ana, nas quais podemos homenagear tantos idosos em nossas paróquias, ou também Nicodemos, entre outros: todos eles nos recordam como em cada idade o Senhor pede a cada um o contributo dos próprios talentos”.
O Papa Francisco, no dia 31 de janeiro deste ano, 2021, instituiu o “Dia Mundial dos Avós e dos Idosos”, a ser comemorado no quarto domingo de julho pela comunidade católica em todo o mundo. O Papa, que completará 85 anos no próximo dia 17 de dezembro, por diversas vezes já exortou a sociedade a valorizar os idosos como fonte de sabedoria e experiência e lamentou uma “cultura do descarte” que os coloca de lado por não serem mais produtivos. Perde-se a oportunidade de aproveitar da riqueza dos avós. Por nenhuma razão, sejam excluídos do círculo familiar. São um tesouro, sobretudo quando dão testemunho da fé diante da proximidade da morte.