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O MAIOR PERIGO É NÃO AMAR

28/06/2021   .    Artigos de Formação
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Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo de Montes Claros (MG)

O núcleo da pregação de Jesus é o anúncio do Reino de Deus. A vida e os ensinos de Jesus gravitaram ao redor da dinâmica do Reino: a revelação do rosto misericordioso do Pai; a hermenêutica da lei a serviço da vida plena; a diaconia aos pequenos, aos pobres, aos enfermos, aos estrangeiros como prioridade de todo cuidado com as pessoas; o resgate do valor da mulher; o amor a todos, até aos inimigos, como mandamento principal. Na leitura e meditação dos evangelhos percebe-se o sonho de Jesus: um mundo de irmãos, sinal do Reino definitivo. Jesus não poupou sequer um momento de sua vida para ensinar outra coisa. Seus gestos e suas palavras ensinaram o amor a Deus e aos irmãos.

O Papa Francisco falou disso com palavras fortes em sua Carta Encíclica Fratelli tutti: “A estatura espiritual duma vida humana é medida pelo amor, que constitui ‘o critério para a decisão definitiva sobre o valor ou a inutilidade duma vida humana’. Todavia há crentes que pensam que a sua grandeza está na imposição das suas ideologias aos outros, ou na defesa violenta da verdade, ou em grandes demonstrações de força. Todos nós, crentes, devemos reconhecer isto: em primeiro lugar está o amor, o amor nunca deve ser colocado em risco, o maior perigo é não amar (cf. 1 Cor 13, 1-13)” (FT 92).

Ora, crescer na estatura espiritual significa alargar o coração para o amor fraterno. Na história do cristianismo encontram-se pessoas que deram de modo exemplar o passo da fé e do amor. A referência a Francisco de Assis, Antônio de Pádua, Damião de Molokai, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce dos Pobres apenas sinaliza a profundidade da experiência cristã vivida por incontável número de homens e mulheres que pautaram suas vidas no traço mais importante da identidade cristã, o amor que nos faz reconhecer em cada rosto humano uma pessoa a ser acolhida, respeitada e amada. O bom samaritano é, assim, modelo para todo discípulo de Jesus. O homem caído à beira do caminho era um desconhecido, quase invisível aos olhos de tantos que passavam. Aquele samaritano “o viu, encheu-se de compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34).

Essa fina percepção da dignidade da pessoa se aprende desde as primeiras lições da vida familiar, berço da identidade humana e social. É grande a responsabilidade da família ao educar para as relações de fraternidade. Também as outras instituições sociais, especialmente a escola, haverão de cultivar o apreço inter-humano. Pesa sobre os usuários dos meios de comunicação, cada vez mais sofisticados, esse zelo pela fraternidade e amizade social. E toda pessoa que ocupa espaços de liderança e projeção social, sobretudo quando reconhecida em sua opção religiosa cristã, somente poderá honrar o nome cristão se testemunhar o apreço incondicional pela defesa da vida e o respeito pela dignidade de cada pessoa. E isso se estende na defesa e na promoção da Família, do Estado Democrático de Direito, na preservação da Casa Comum e na promoção de uma economia solidária. Para a fé cristã, todos somos chamados a educar para o amor, “caso contrário, transmitem-se o egoísmo, a violência, a corrupção nas suas diversas formas, a indiferença e, em última análise, uma vida fechada a toda a transcendência e entrincheirada nos interesses individuais” (FT 113). A pandemia tem mostrado isso. De um lado, a força da fraternidade e da solidariedade. E, de outro, a irresponsabilidade e a desfaçatez. E o maior perigo: não amar.

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