Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Salvador (BA)
Na sua bela encíclica social denominada Fratelli Tutti, o Papa Francisco faz um veemente apelo à paz e à fraternidade num mundo marcado por conflitos e divisões, por destruição e morte. Como artesão da paz, ele se opõe energicamente às guerras. “Nunca mais a guerra”, proclama o Papa (n. 258). Na sua histórica viagem ao Iraque, ele afirmou: “Calem-se as armas! Limite-se a sua difusão, aqui e em toda a parte”. O seu ensinamento torna-se ainda mais relevante e urgente no lamentável cenário de guerra deflagrada pela Rússia na Ucrânia.
As vítimas dos conflitos armados no mundo ou da violência disseminada na sociedade não podem ser reduzidas à números e estatísticas. São pessoas que têm a sua dignidade violada, a vida ceifada e a família destruída. Por detrás de cada vítima, há muitas outras pessoas e famílias dilaceradas pelo sofrimento, clamando por justiça e paz. Não podemos perder a capacidade de dizer “não” à guerra e à violência, nas suas variadas formas, e de promover a paz, nos seus diversos níveis.
As imagens de conflitos armados costumam chocar bastante. Contudo, na vida cotidiana, há situações de desrespeito e de violência que tendem a ser toleradas e perpetuadas, como a violência doméstica, o linchamento moral nas redes sociais e o conflito brutal entre grupos. Nenhuma pessoa, família ou comunidade pode viver em clima de guerra. Ninguém deveria ser ofendido nas redes sociais ou nas ruas. As redes sociais devem ser meios privilegiados de construção da fraternidade e da paz entre pessoas, grupos e nações. As nossas casas devem ser espaços de convivência fraterna e pacífica.
A construção da paz é tarefa coletiva; necessita da atenção e dos esforços de todos. “Existe uma ‘arquitetura’ da paz, na qual intervêm as várias instituições da sociedade, cada uma dentro de sua competência, mas há também um ‘artesanato’ da paz, que envolve a todos”, segundo o Papa Francisco na Fratelli tutti. É preciso fazer acontecer um mutirão permanente pela construção da paz, que inclui desde pequenos gestos no cotidiano até as grandes decisões políticas em favor da vida, da justiça social e da segurança pública.
É possível colaborar para a construção da paz através do diálogo e do esforço conjunto na superação dos conflitos. Ao invés da vingança e do ódio, é preciso promover a reconciliação, a solidariedade e a paz no mundo de hoje. Diante das resistências para trilhar o caminho da fraternidade e da paz, não podemos desanimar. É preciso renovar o empenho pela construção da paz, que é sempre dom e tarefa. É preciso repetir, de coração, “nunca mais a guerra”, onde quer que ela ocorra, em casa, nas ruas ou entre países. Ao invés de favorecer ou alimentar guerras, necessitamos trilhar o caminho das bem-aventuranças, pois segundo a palavra de Jesus “os que promovem a paz” são felizes, “bem-aventurados”; são “chamados filhos de Deus”.