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QUARTA-FEIRA DE CINZAS  

22/02/2023   .    Palavra do Bispo
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Início da Quaresma e abertura da Campanha da Fraternidade 

Com a celebração da Liturgia da Quarta-feira de Cinzas iniciamos o tempo quaresmal, que é um convite à conversão e à penitência, ao jejum e à oração. A exortação proferida pelo Senhor na primeira leitura, desta liturgia, rasgai os vossos corações e não as vestes, é síntese de todo o nosso itinerário quaresmal que hoje iniciamos. 

A imposição das cinzas em nossas frontes não é um rito mágico. As cinzas em nossas cabeças manifestam o nosso vivo desejo de rasgar o coração, isto é, de renovação interior para celebrar com alegria a ressurreição do Senhor e acolhê-lo vivo em nossas vidas.  

Jesus, no Evangelho, nos ensina a verdade sobre o jejum, a oração e a esmola ou a caridade. Esses atos de piedade, vividos hoje e durante toda a Quaresma devem nos levar ao abandono de toda espiritualidade falsa, hipócrita e vaidosa. A esmola, a oração e o jejum são os três pilares da vivência autêntica da nossa religião. Definem a qualidade do nosso relacionamento com Deus, com os outros e com toda a realidade criada. Esses três relacionamentos constituem a nossa a essência de nossa espiritualidade e vivência religiosa. Neles vivemos ou não, a nossa verdade de filhos, completamos ou não, a justiça de Deus. 

Qualquer ação nossa pode ser realizada de duas maneiras opostas; para a nossa auto-satisfação, recebendo elogios e reconhecimentos humanos, ou para agradar aquele que sempre nos ama e nos reconhece como filhos.  

E a reflexão, a vivência do tema da Campanha da Fraternidade deste ano é sobre a “Fome”, e o lema recorda o que Jesus disse aos discípulos, diante da multidão faminta: “Dai-lhes vós mesmos de comer”(Mt 14,16). É um bom e belo exercício quaresmal formando-nos para a solidariedade em toda a nossa vida. Alimentar o faminto é ato de esmola, caridade e fraternidade. Tornamo-nos de certo modo embaixadores de Cristo, o embaixador do Pai.  

“O Brasil sente fome. Milhões de brasileiros e brasileiras experimentam a triste e humilhante situação de não poder se alimentar nem dar aos seus filhos e filhas o alimento indispensável a cada dia. Por isso, a CNBB apresenta, pela terceira vez, o tema da FOME para a Campanha da Fraternidade (1975, 1985 e 2023).” 

“Ao falar da vida eterna, Jesus utilizou a imagem do banquete (Mt 22,2), mostrando-nos que o desejo do banquete eterno deve se traduzir em atitudes de compromisso com uma sociedade em que o alimento esteja em todas as mesas. Jesus teve compaixão da multidão faminta (Mt 14,14-21). Embora os discípulos apontassem a solução de deixar o problema nas mãos de quem corria o risco da fome, Jesus abre os olhos e os corações destes mesmos discípulos para que não se justifiquem diante da impossibilidade, mas compreendam que a mudança da realidade começa com eles, em escuta ao Senhor, que lhes ordena darem, eles mesmos, à multidão, o que comer. Jesus indica outra maneira de compreender as interpelações que a vida nos apresenta. Ultrapassando a lógica imediata, Ele para a necessidade de a agir forma colaborativa, ainda que as dificuldades sejam grandes e os recursos escassos. Quando agimos em colaboração com os outros e colocamos em comum, ainda que seja o pouco que temos, não vai faltar para ninguém.”  

Para a humanidade, a fome não é apenas uma tragédia, mas também uma vergonha nos diz o texto base da CF. Diante da realidade de fome não podemos ficar paralisados, insensíveis ou indiferentes. Somos todos responsáveis e convidados a realizar o pedido de Jesus: “Dai-lhes vós mesmos de comer.”(Mt 14,16).  

“Que, portanto, esta Quaresma seja vivida em forte espírito de solidariedade. Que nosso jejum abra nosso coração aos irmãos e irmãs que sofrem com a fome. Que nossa solidariedade seja intensificada. Que saibamos encontrar soluções criativas para a superação da fome, seja no nível mais imediato, assistencial, seja no nível de toda a sociedade. Que efetivamente se cumpra a responsabilidade dos governantes, em seus diversos níveis, concretizando políticas públicas, principalmente as de estado, que atinjam a raiz deste vergonhoso flagelo, garantindo não apenas a produção de alimentos, mas também que eles cheguem a cada pessoa, em especial as mais fragilizada.” 

Que vivamos nossa caminhada quaresmal e ao mesmo tempo façamos a experiência da reflexão que a Campanha da Fraternidade nos propõem, e aprendamos que Jesus ensinou aos discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. E que não haja nenhum irmão e nenhuma irmã em nosso meio que passe fome. 

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