“Bendita és tu entre todas as mulheres e bendito o fruto do teu ventre” (Lc 1,42)
Mesmo que o Novo Testamento tenha como objetivo falar de Jesus e sua mensagem, os textos bíblicos falam muito também da sua Mãe. A Escritura nos ensina que quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho nascido de uma Mulher (Gl 4,4). O Senhor Deus queria cumprir a mais importante de todas as promessas do Antigo Testamento, que era o envio do Messias. Assim, as tradições do Antigo Testamento associam a noção de Aliança com a Arca na Tenda ou Morada do Senhor.
A ligação entre a Virgem e a Arca da Aliança pode-se perceber em Lucas através do uso do verbo “habitar” que a tradução grega da Setenta emprega para traduzir o hebraico shakan. Este termo indica a habitação de Deus entre os homens. Quando o santuário fica pronto, o Senhor toma posse dele fazendo habitar sobre ele a nuvem sinal da sua presença (Ex 40,35).
Maria é associada à arca santa e significa a nova morada do Senhor. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós.”(Jo 1,14). Maria foi a escolhida entre as mulheres para trazer o Messias ao mundo. O sonho das meninas da época era ser a mãe daquele que havia sido prometido pelos Profetas. Maria, então, recebeu a visita do Anjo Gabriel que lhe anunciou a grande missão. Ela encontrou graça diante de Deus e o Senhor estava com ela (Lc 1,28).
Ela disse “Sim” a Deus, como a humilde serva do Senhor (Lc 1,38). Esta missão foi difícil e bela ao mesmo tempo. Maria teve que enfrentar os preconceitos, precisou da ajuda do Anjo para convencer José, a quem estava prometida em casamento. Seguramente não faltaram as fofocas e correu o risco de ser apedrejada, segundo a lei da época.
Maria se colocou a serviço, visitando Isabel, que estava grávida e esperava pelo nascimento de João Batista. Maria cantou de alegria. O “Magnificat” (Lc 1,46-55) é o canto da esperança e da fidelidade! Canto que expressa o sonho e as expectativas dos pobres e justos da época.
O Menino Jesus nasceu na pobreza da gruta de Belém, onde a jovem Mãe aprendeu a cuidar dele “envolvendo-o em faixas e reclinou-o numa manjedoura” (Lc 2,7). É a pobreza material e a riqueza da graça que se unem. Maria acolhedora e hospitaleira recebeu a visita dos magos e ouviu o céu e a terra se encherem com cantos de glória (Lc 2,8-12).
Maria cumpriu os preceitos da Lei. O Menino Jesus foi circuncidado no oitavo dia (Lc 2,21). E quarenta dias depois do nascimento a mãe foi ao Templo para purificar-se e levar a oferta dos pobres, um casal de pombinhos (Lc 2,24). Foi no Templo que ela viu as profecias se realizando, quando o Menino foi reconhecido pelo velho e justo Simeão e pela profetisa Ana. Mas foi também ali no Templo que soube que uma “espada lhe transpassaria a alma” (Lc 2,35).
Ela retornou a Nazaré e acompanhou o Menino que crescia em sabedoria e graça diante de Deus. Foi com Ele a Jerusalém quando já estava com doze anos, sofreu com a sua perda, mas sabia que Ele estava se preparando para a missão. E foi conservando tudo isso em seu coração (Lc 2,51).
Foi Maria quem deu o sinal para o início da atividade de Jesus: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5). Depois acompanhou silenciosamente o Filho que anunciou o Reino e a boa notícia de Deus ao povo.
A Mãe acompanhou Jesus na sua subida à Jerusalém cantando os Salmos, como faziam as mulheres que subiam ao Templo para adorar ao Senhor. Mas seguiu também quando Jesus carregou a cruz no caminho do Calvário. Aos pés da cruz ouviu o pedido de Jesus ao Apóstolo João para que cuidasse dela, indicando que não havia ali nenhum parente de Jesus (Jo 19,25-27) e, segundo a tradição, foi ela que recebeu o corpo do Filho descido da cruz.
Ainda encontramos Maria em oração com os Apóstolos no cenáculo de Jerusalém (At 1,14) e no dia do nascimento da Igreja em Pentecostes (At 2,1ss), por isso Maria é também Mãe da Igreja. Assim como Jesus foi fiel à sua missão, Maria também foi perseverante até o fim. Por isso, Maria é para nós exemplo de Mãe, Mulher e discípula do Senhor!