Todos os anos, o tempo do Advento nos descortina para um novo ano litúrgico e também nos envolve na bela caminhada de preparação para o Natal do Senhor. É, por excelência, tempo de esperança. Escolhi colocar, já no título, o lema do cardeal Paulo Evaristo Arns, que neste ano de 2021 completaria 100 anos. Ele testemunhou enquanto viveu que, mesmo diante das provações, o horizonte da vida humana é o horizonte da esperança. E o Advento está aí também para nos lembrar disso. É um tempo oportuno para a humanidade, pois nele reconhecemos a bondade de Deus ao nos enviar Seu Filho Único para nos salvar.
O Advento nos prepara para a festa da Encarnação do Verbo. Uma festa, por natureza, de comunicação. É a festa da Palavra feita carne. Ao abrirmos a Sagrada Escritura no prólogo de São João, encontramos que “a Palavra se fez carne e veio morar entre nós” (cf. Jo 1,14). Que bela e rica verdade de nossa fé! Que bela e rica experiência de comunicação! Ao rezá-la, cada crente deve ter a consciência de que a Palavra já se fez carne uma vez por todas, para nos ensinar a sermos mais humanos. O ciclo do Natal, que liturgicamente compreende os tempos do Advento e do Natal, é o tempo de viver a profundidade e a riqueza das relações. É um tempo de fecundidade espiritual, no qual somos chamados perceber a mão de Deus orientando a nossa história e nos chamando ao Seu serviço como filhos dedicados.
Tempo da interrupção
Ao escrever sobre o que é o Advento, o poeta e cardeal português José Tolentino Mendonça afirma que é o interromper a conversa.
“Estamos numa conversa e estamos a debater-nos por encontrar uma solução e um sentido, que nem sempre é óbvio, que raramente é evidente, e que quase nunca é fácil, para não dizer nunca. Estamos neste debate conosco, com os outros, com Deus, colocamos perguntas. E o que é que é o Advento? O Advento é uma interrupção. A conversa interrompe-se. E interrompe-se com um cortejo, que nos vem anunciar um nascimento, que nos vem abrir os olhos para olharmos para a vida, a vida no seu milagre, na sua essencialidade, a vida Vida, a vida estreme, a vida sem mais. Porque Jesus nasce e o que nós temos é a vida estreme.”
Podemos entender esta interrupção também como a necessidade que cada pessoa tem para se re-conectar, re-ligar com Deus e consigo mesma. Por isso, o advento se torna um tempo oportuno para uma verdadeira gravidez espiritual que fecunde a nossa ação pastoral no decorrer do tempo. É a interrupção dos cansaços, dos dissabores, das dificuldades para renovar nossa vida na Vida verdadeira. É o tempo de arrumar a casa e perceber a mística do instante que, às vezes, passa despercebida nas correrias do dia-a-dia.
Tempo para a Palavra
As quatro semanas que compõem o Advento se configuram num verdadeiro retiro espiritual. A Palavra proclamada dá sentido ao itinerário preparatório do Natal, que é composto por uma dupla característica, conforme apresentam as Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário:
“O tempo do advento possui dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o tempo do advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa” (NALC 39).
A escuta atenta do profeta Isaías e demais profetas, a exortação à vigilância presente nas leituras apostólicas e os relatos dos evangelhos. Neste ano C, ouvimos as narrativas do evangelista Lucas que, no primeiro domingo do advento sempre traz um texto que fala do fim dos tempos; no segundo e terceiro domingo, se faz referência a João Batista e no quarto domingo proclamam-se acontecimentos que preparavam imediatamente o nascimento de Jesus, como a visita de Maria a Isabel.
O que comunicar no tempo do Advento?
A primeira e mais eficaz comunicação do Advento deve ser a da esperança, como principal característica deste tempo. Procure apresentar esta virtude por meio das publicações em redes sociais e demais meios utilizados para exercício da missão em sua comunidade, paróquia ou diocese. A missão da comunicação, neste tempo, não é outra, senão, manter a esperança.
Motive as pessoas a viverem o verdadeiro espírito do Advento e do Natal que não é outro senão o de sermos alcançados pela misericórdia de Deus que nos vem visitar em Jesus. O espírito do Natal não é o do consumo. Cuidado para não inebriar a comunicação com elementos que falem mais do espírito do consumo do que do tempo litúrgico propriamente dito.
Uma proposta simples e que pode ser bastante eficaz é propor um itinerário espiritual para as pessoas no tempo do Advento. Um compromisso para cada dia, que poderá ser algo espiritual – como a meditação de um texto bíblico – ou algo prático – como visitar alguém, ligar para uma pessoa ou fazer um gesto concreto.
10 atitudes do agente da Pascom para viver bem o Advento
Não tenhamos medo de viver o tempo do Advento. Abramos o coração ao Espírito Santo: a sua presença e ação na Igreja e no mundo se comunica por meio daqueles que por ele se deixam guiar!
Fonte: Pascom Brasil – Marcus Tullius – Filósofo e publicitário. Coordenador geral da Pascom Brasil e membro do Grupo de Reflexão em Comunicação da CNBB. É autor do livro Esperançar: a missão do agente da Pastoral da Comunicação, pela Editora Paulus.
Foto: @parroquiamadridejos – cathopic.com