Monsenhor José Magno do Nascimento
Assessor Diocesano dos Movimentos de Religiosidade Popular – Folias de Reis, Congados e Moçambiques
Imaginem um padre negro falando sobre o dia Nacional da Consciência Negra. Dá uma vontade de abordar vários aspectos e situações. Indo desde as justificativas mentirosas e vergonhosas da escravidão, as injustiças no período da escravidão e depois da lei de 13 de maio de 1888, etc.
Em 20 de Novembro de 1695, morre assassinado o líder do Quilombo dos Palmares, uma das grandes expressões de luta e resistência do Povo Negro, do povo Preto. A existência e a história de ZUMBI DOS PALMARES destrói a afirmação falsa de que o negro era dócil na escravidão. Esta afirmação tão falsa tentava simplesmente tirar o ânimo impossibilitando reações a ponto de omitirem notícias e fatos de revoltas e reações à escravidão, inclusive em Minas Gerais. Basta lembrar que o Maior Quilombo do Brasil é o de Palmares na Serra da Barriga no estado de Alagoas. O segundo Maior Quilombo do Brasil é o Quilombo do Ambrósio no Morro do Espia em Ibiá MG (cidade da nossa Diocese Sõ Chico e várias pessoas em Ibiá tem muito a contar deste Quilombo). Quando comemoramos o dia da Consciência Negra, nós negros dizemos para nós que os nossos antepassados nunca se acomodaram com a escravidão e/ou com a discriminação e segregação decorrentes. E dizemos também para todos que a resistência está presente em nossa vida.
Êh Zumbi, você não morreu, você está em mim!
O Dia da Consciência Negra nos alerta para várias coisas/comportamentos que sustentam o racismo e a discriminação ainda em nossos dias. Podemos citar a falta de vontade em enxergar a beleza negra obrigando negros e negras a adotarem aparências, costumes que não são seus. O não querer enxergar a capacidade e inteligência de negros e negras sinalizados pela triste expressão “mas é” (ele/ela é negro/negra mas é muito atento… acreditam que nós ainda ouvimos isto até hoje?)
Lembramos também as oportunidades que são negadas, sobretudo quando revivemos os terríveis debates sobre as cotas, e nem divulgam o aproveitamento espetacular dos cotistas. A identificação do pecado, ou das coisas difíceis com o preto.
Apenas exemplifiquei situações muito superficialmente e quero repetir o que nós sabemos: o racismo e a discriminação tem de ser combatidos na estrutura.
Ê Zumbi, você não morreu, você está em mim!
A resistência que combate o racismo e a retirada do povo negro de cena (seja pela morte de nosso povo, seja pela exclusão de espaços sociais) diz para nós que a luta é mais séria do que nós pensamos. Luta para conquistar a liberdade a igualdade e espaço; inclusive para que as crianças e jovens possam sonhar e os adultos e idosos poderem manter o sonho de felicidade para eles e para a família.
Precisamos estar também atentos com todos as lideranças, formadores e formadoras de opiniões. Crescer na consciência negra é também repudiar expressões, comportamentos, é não aceitar mesmo.
A nossa atenção, neste dia da consciência negra, há de voltar também para todos e todas que atuam e lideram nas pastorais, sendo ministros ordenados ou não. Preste atenção se há presença de negros e negras em sua comunidade ou pastoral e em que proporção. E, se não há, por onde eles/elas andam e qual motivo da ausência? A participação junto com lideranças sociais para eliminar distância, proporcionando a inclusão, também a inclusão religiosa comunitária. E não tenhamos dúvida que, buscar a igualdade, combater o racismo e discriminação é ajudar a sociedade, sobretudo a comunidade cristã a viver a saúde, que é uma presença de amor. Omitir neste ponto é favorecer o crescimento da discriminação em um leque cada vez mais amplo.
Observando a nossa sociedade percebemos o verdadeiro sentido e a necessidade do DIA NACIONAL DAS CONSCIÊNCIA NEGRA. Sendo eu, o primeiro sacerdote negro da Diocese de Patos de Minas, fico muito à vontade para convidar meus irmãos sacerdotes para observarem com os leigos dos movimentos e pastorais das paróquias em que estão, e também observarem comigo: os salários, a escolaridade, lugares e condições de moradias, empregos e funções nos empregos, opções de lazer e situação de saúde. Veremos o quanto precisamos nos unir para as conquistas do povo negro, e se olhamos com o olhar de Jesus, descobriremos também com este olhar que é uma atitude profética e evangelizadora fazer acontecer este dia e DEFENDER E DIVULGAR com palavras e ações sobretudo acompanhando a implantação de políticas públicas
Eliana de Lima (Sou negro sim)
Sou Negro
Sou negro sim
Não tenho vergonha não
Desde a bolição
Que eu luto
Luz, luz do cometa luz
Reluz sobre nossas cabeças
A minha cor
Não deve influir no nosso amor
Porque o negro é nascido da flor
Va, diga pra eles que a cor da pele é bonita demais
Contra a opressão e o desnível social
A discriminação geral.
Sou negro sim
Não tenho vergonha não
Desde a abolição que eu luto
Contra a opressão e o desnível social
A discriminação geral.
VINTE DE NOVEMBRO NOS LEVARÁ A CONSTRUIR CONQUISTAR UM MUNDO DE IGUAIS. AINDA QUE CUSTE, MAS CHEGAREMOS! VENHA CONOSCO!
Axé Modjumbá (Aquele que é minha Paz, te abençoe)
Um abraço negro