João Carlos Pereira Horácio
Seminário Maior “Dom José André Coimbra” de Patos de Minas/MG
O homem é um ser formado em sua estrutura. Dela deriva-se todo o seu desenvolvimento humano a nível moral e ético. Assim, o homem necessita de órgãos formadores de sua conduta ética civil e ético religioso[1].
Tais organismos formadores, irá desenvolver no homem o apreço pela a verdade e a diligente investigação dos valores e das leis que constituem as condições indispensáveis a toda cultura da formação do homem[2].
Sendo assim, para tal formação é necessários três pilares: família, escola e catequese. Desses três pilares, o que se encontra em jogo devido a secularização e banalização do sagrado, é o pilar da catequese.
A catequese é o centro da formação integral da fé. Ela é responsável em formar os cristãos para uma vida eclesial pautada a luz do Magistério, o aprofundamento histórico da Tradição e vivência da Palavra:
“Missão principal da formação é ajudar os membros da Igreja a se encontrar sempre com Cristo, e assim reconhecer, acolher, interiorizar e desenvolver a experiência e os valores que constituem a própria identidade e missão cristã no mundo. Por isso, a formação obedece a um processo integral, ou seja, compreende várias dimensões, todas harmonizadas entre si em unidade vital ” (DA, 2008, p.130).
Deste modo, o catequista é o primeiro educador sistemático daquele catecúmeno. Ele passa ter a responsabilidade de desenvolver a formação da consciência no sentido ético religioso. Assim, o catequista irá desenvolver a consciência moral como uma faculdade comportamental[3].
O catequista irá desenvolver tal faculdade nas três etapas do desenvolvimento humano que são: crianças, adolescentes e jovens e adultos[4]. Em cada etapa, é necessária uma psicopedagogia para que se utilize a metodologia formativa correta[5].
A sua metodologia deve ter como centralidade a figura de Jesus Cristo, aquele que é o revelador do Pai[6]. Partindo desse pressuposto, o trabalho do catequista é formar no campo teórico uma solidez das verdades de Fé reveladas, levando –os a refletir tais verdades no campo prático completando a vivencial sacramental.
“A colocar-se à procura dos clamores de verdade que já estão presentes em diversas atividades humanas, na confiança de que Deus está misteriosamente em ação no coração de cada pessoa antes mesmo de ela ser explicitamente alcançada pelo Evangelho. Nesse sentido, saberá fazer-se próxima das pessoas de nosso tempo, caminhando lado a lado onde elas se encontram” (Diretório para a Catequese, 2020, p.53).
O catecúmeno ao alinhar o teórico com o prático, ele irá viver a mistagogia, que é uma pedagogia, adentrada na mística que nos faz ser inseridos ao mistério do amor de Deus. Sendo assim, adentrado neste mistério ele se torna um desejo insaciável, pois o catecúmeno experimenta esse amor, que inesgotável[7] que dá todo da sua formação[8].
“O caminho de Deus que se revela e salva, unido à resposta de fé da Igreja na história, torna-se fonte e modelo da pedagogia da fé. A catequese, portanto, configura-se como um processo que torna possível a maturidade da fé por meio do itinerário de cada fiel. A catequese é, portanto, pedagogia em ação da fé que realiza uma obra de iniciação, educação e ensinamento, tendo sempre bem clara a unidade entre o conteúdo e a modalidade na qual é transmitido. A Igreja tem consciência de que o Espírito Santo age efetivamente na catequese: essa presença transforma a catequese em uma pedagogia original da fé” (Diretório para Catequese, 2020, p.127).
Enfim, o catequista ao educar o seu catequisando e inseri-lo na vida comunitária eclesial, contribuem para a formação integral do desenvolvimento humano ético religioso. O catequisando já desenvolvido na formação inicial, é inserido na formação permanente como discípulo missionário, enviado para dar testemunho como cristão autêntico e servidor do Evangelho.
Por fim, a necessidade de uma catequese autentica e pautada na sistematização da fé contribui para frutificação consciente das devidas responsabilidades éticas do cristão católico. Tendo a consciência de viver de maneira lúcida os mandamentos e testemunhando, de forma vital a fé recebida em sua formação, que não intermitente, mais sim permanente.
REFERÊNCIA:
Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola,2000.
Diretório para a Catequese. Pontifício Conselho para a promoção da Nova Evangelização. São Paulo: Paulus, 2020.
Documento de Aparecida: Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino – Americano e do Caribe. São Paulo: Paulus, 2013, 14 ed.
Iniciação à vida cristã: itinerário para formar discípulos missionários: Documentos da CNBB 107. Brasília: Edições CNBB, 2017.
VIDAL M., Moral de Atitudes –1º moral fundamental. Aparecida: Santuário, 1978.
VAZ, Henrique C. Lima. Antropologia Filosófica II. 4ed. São Paulo: Loyola, 1991.
[1] “Experiência fundamental do mundo estende-se o campo intérmino da atividade simbolizante do homem, que justifica a sua caracterização como animal symbolicum e que se propõe explicar, no sentido literal, o mundo, ou seja, desdobrá-lo como mundo das significações e, assim, compreendê-lo. Dentro essas formas de expressão, que são outros tantos ‘discursos’ (lógoi) sobre o mundo, algumas vieram a construir o objeto de disciplinas próprias do saber filosófico, como a própria linguagem na Filosofia da Linguagem, a arte na Filosofia da Arte” (Lima Vaz, 1992, p.24).
[2] “A afirmação de que o homem é uma unidade totalizante não apaga a diversidade de aspectos que podem integrar o comportamento humano: exterioridade – interioridade, objetividade – subjetividade, intencionalidade – execução etc.. São aspectos ou dimensões que é necessário ver em todo comportamento humano. Nos comportamentos concretos podemos advertir a prevalência de uma e outra dimensão. Mas o que não se pode perder de vista é a unidade pessoal de todo comportamento. Valerá esta afirmação para valorar as dimensões externas (atos externos), as dimensões executivas (intenção e execução) na conduta moral”. (Vidal, 1978, p. 249 -250).
[3] “A educação da consciência é uma tarefa de toda a vida. Desde os primeiros anos, alerta a criança para o conhecimento e a prática da lei interior reconhecida pela consciência moral. Uma educação prudente ensina a virtude, preserva ou cura do medo, do egoísmo e do orgulho, dos sentimentos de culpabilidade e dos movimentos de complacência, nascidos da fraqueza e das faltas humanas. A educação da consciência garante a liberdade e gera a paz do coração” (CIC, nº1784).
[4] “Na formação dos introdutores, catequistas e ministros da comunidade, é primordial o conhecimento da Bíblia, fonte primeira da catequese. Igualmente, é preciso valer-se do Catecismo da Igreja Católica e do Compêndio de Doutrina Social da Igreja, além dos principais Documentos do Magistério relativos à Iniciação à Vida Cristã. Esse conhecimento deve estar ligado à vida, com suas alegrias e problemas, que devem ser iluminados pelo conteúdo de nossa fé” (Doc. 107, 2017, p.78-79).
[5] “No estudo do desenvolvimento moral considera que é o juízo moral o fator mais decisivo em cada etapa do desenvolvimento. O representante mais qualificado desta corrente é Piaget, quem estudou o desenvolvimento do juízo moral na criança. Para isso analisou:
– A atitude mutante das crianças ante as regras do jogo; observou os seguintes estádios: 1) estádio da regra motriz; 2) estádio da regra imutável por estar imposta pelos maiores; 3) estádio da regra criada pelo consenso social.
– A atitude mutante das crianças ante as relações sociais; constatou a seguinte evolução: 1) estádio de respeito unilateral; 2) estádio da justiça igualitária; 3) estádio da equidade.
– A sequência de sistemas morais na criança: 1) moralidade de coação; 2) moralidade de cooperação” (Vidal, 1978, p.393).
[6] “O mistério da encarnação inspira a pedagogia catequética. Isso tem implicações também para a metodologia da catequese, que deve ter por referência a Palavra de Deus e, ao mesmo tempo, assumir as instâncias autênticas da experiência humana. Trata-se de viver a fidelidade a Deus e às pessoas, a fim de evitar qualquer oposição, ou separação, ou neutralidade entre método e conteúdo. O conteúdo da catequese, sendo objeto da fé, não pode ser indiscriminadamente submetido a qualquer método, mas exige que reflita a natureza da mensagem evangélica com suas fontes, como também considere as circunstâncias concretas da comunidade eclesial de cada um dos indivíduos batizados. É importante ter em mente que a finalidade educativa da catequese é que determina as escolhas metodológicas” (Diretório para Catequese, 2020, p.137).
[7] “Deus, ‘Aquele que é’, revelou-se a Israel como Aquele que é ‘rico em amor e em fidelidade’ (Ex 34,6). Esses dois termos exprimem de forma condensada as riquezas do nome divino. Em todas as suas obras Deus mostra sua benevolência, bondade, graça, amor, mas também sua confiabilidade, constância, fidelidade, verdade. ‘Celebro teu nome por teu amor e verdade’ (Sl 138,2). Ele é a Verdade, pois ‘Deus é Luz, nele não há trevas’ (1Jo 1,5), é ‘Amor’, como ensina o apóstolo João (1Jo 4,8). (CIC nº 214).
[8] Cf. Doc. 107, nº56, p.37.
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